11 de dez. de 2013

Sobre as coisas difíceis da vida




Os homens, com o auxilio das convenções, resolveram tudo facilmente e pelo lado mais fácil da facilidade; mas é claro que nós devemos agarrar-nos ao difícil. Tudo que é vivo se agarra a ele [...].
É bom estar só, porque a solidão é difícil.
O fato de uma coisa ser difícil deve ser um motivo a mais para que seja feita.
Amar também é bom: porque o amor é difícil. o amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e última prova, 
a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação.
 Por isso, pessoas jovens que ainda são estreantes em tudo não sabem amar: 
tem que aprendê-lo. 
Mas a aprendizagem é sempre uma longa clausura. 


R. M. Rilke - Cartas a um jovem poeta

7 de ago. de 2013

Te quiero



TE QUIERO

Tus manos son mi caricia 
mis acordes cotidianos 
te quiero porque tus manos 
trabajan por la justicia

si te quiero es porque sos 
mi amor mi cómplice y todo 
y en la calle codo a codo 
somos mucho más que dos

tus ojos son mi conjuro 
contra la mala jornada 
te quiero por tu mirada 
que mira y siembra futuro

tu boca que es tuya y mía 
tu boca no se equivoca 
te quiero porque tu boca 
sabe gritar rebeldía

si te quiero es porque sos 
mi amor mi cómplice y todo 
y en la calle codo a codo 
somos mucho más que dos

y por tu rostro sincero 
y tu paso vagabundo 
y tu llanto por el mundo 
porque sos pueblo te quiero

y porque amor no es aureola 
ni cándida moraleja 
y porque somos pareja 
que sabe que no está sola

te quiero en mi paraíso 
es decir que en mi país 
la gente viva feliz 
aunque no tenga permiso

si te quiero es porque sos 
mi amor mi cómplice y todo 
y en la calle codo a codo 
somos mucho más que dos

Mario Benedetti


10 de jun. de 2013



Desarmonia 

Corpo vazio, alma sem corpo.
Uma disputa entre matéria e espírito?
Já não sabe dizer o que é a matéria:
vadia entre as almas pagãs enquanto
anda descalço na terra, gozando texturas.
Um ser pagão-vítima-réu
de um corpo-espírito em constante guerra:
espírito que não cabe no corpo;
corpo que não cabe no mundo;
civilização que dilacera ambos.
Enquanto isso resiste, tonto,
às alergias nasais e olhos vermelhos
que insistem em rejeitar e expulsar
 o próprio ar que o sustenta.
Resiste, tonto, às suas próprias grades.
Engole, dolorosamente, o frio da amarga solidão
e o quente sangue ao pôr de mais um sol.
Descobre, todos os dias, status,
ordem, moral e competição
que afastam o outro de si:
assim distanciam-se os irmãos.
Matam-se lentamente, corpo e espírito,
pela estrada que não finda;
O sangue a escorrer, o suor
à espera inútil da passagem do tempo,
enquanto devaneios cruéis desnudam
misérias e maldades humanas.

Iara


23 de mai. de 2013

Outono por Bashô



Matsuo Bashô, ou simplesmente Bashô, foi um poeta do período Edo no Japão e é reconhecido atualmente como um mestre da forma haikai.
Abaixo, alguns haikais de Bashô, com a cenografia outonal:


Este caminho!
sem ninguém nele,
escuridão de outono.


vento de outono
a silenciosa colina
muda me responde.


Outono
Empoleirado num ramo seco
um corvo.


Move-te ó tumba!
Meu pranto
é o vento do outono.


E tu, aranha
como cantarias
neste vento de outono?



2 de mai. de 2013

Festa da lavadeira de Pernambuco





Lavadeira

Vontade de ter ido
de ter dançado
voado, rodado, me perdido
entre aqueles vestidos
cores, estampas, sons
entre aqueles sorrisos.
Vontade de ter ido
de ter zombado
da cara da tristeza
do cinza, do apático, do engano
do governo, da mesmice
da cara do Feliciano.
Vontade de ter ido
à festa da Lavadeira
lavadeira sem tanque, sem mar, sem lama
Lavadeira sem lavadeira
ainda assim, linda Lavadeira
de Pernambuco.

Iara Ferreira


A festa da Lavadeira de Pernambuco acontece todo 1º de maio, dia do trabalhador também, deste 1987. Tradicionalmente ela ocorria na praia do Paiva, porém, atualmente, ela acontece em outro bairro, não mais na praia. Isso tem motivado várias discussões sobre qualidade e propósito da própria festa e principalmente sobre os projetos de intervenção urbana que a prefeitura de Recife tem realizado. 

5 de abr. de 2013

Renascimento

Foto: Sebastião Salgado


“Onde há destruição, aí se define o meu caminho.
Onde os deuses se desmoronam é que apareço
Onde se morre, onde se nasce.
Onde se morre é que eu renasço…”



Moacyr Félix



3 de abr. de 2013

Azul esverdeado




Azul esverdeado

Olhos castanhos, cárceres de minha vida,
deixe-me ir, apenas ir
ao encontro de sorrisos gratuitos
de amor verdadeiro
e de paz que não há no teu olhar;
deixe-me livre.

Deixe-me mergulhar no azul esverdeado
onde eu não tenha que implorar em vão
pelo esforço de seus sorrisos
pelo vazio de suas promessas
pela frieza de suas mentiras
e pela delicadeza de suas incertezas.

Deixe-me ir sem levar lembranças
sem deixar rastros
deixe-me fingir certeza de tua certeza;
incerta e estúpida certeza.

Deixe-me ir e esquecer-me de tudo
Esquecer que te amei, que te amo
Esquecer a felicidade, a tristeza, a saudade;
Deixe-me, enfim, te deixar.

Iara


5 de mar. de 2013

Sobre saudades


Resposta a alguém que disse "saudade é o que sinto agora, só isso":

"Saudade faz chorar a cada lembrança de quando os objetivos pareciam estar próximos, de quando havia vontade de estar junto e caminhar junto. Saudade é ter que conviver com a ausência e sufocar o amor todos os dias. Saudade dói, consome. É o que sinto agora. É o que sinto todos os dias. Sinto saudades de quando não sabia que a sua saudade era diferente da minha".

Saudade

Êta menino viajante,
desapegado
que passou e deixou
um terremoto em mim.

Nêgo, 
se és pássaro
e vives de vôos,
vá!

Mas leve contigo
o terremoto
e tudo que traz
lembranças de ti.

Que já não suporto
o estrago
dessa saudade
que quase me mata.


1 de fev. de 2013

Quando fevereiro chegar



Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e, se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? 
(Para uma avenca partindo - Caio F. de Abreu)

27 de jan. de 2013

Ambivalência



Ambivalência

Tu, ambivalência em pessoa,
que entre tristezas  e alegrias
mergulhas e respiras
saltas num segundo
do vinho à água fresca
da loucura ao equilíbrio
e assim vais, meio que sem saber
onde vai dar, o que vai rolar
querendo mais do que liberdade
mais do que ela poderia dar.

Tu, que nem pensas direito,
que num impulso se joga
e num segundo se acolhe
se arrepende, se maltrata
choras depois de tanto sorrir
e sofres em uma lágrima
o que não sorristes em mil sorrisos
quase desiste, quase avança
se desespera, se encoraja
se sente só, se cansa de tanta gente.

Faça uma poesia!
que alivia o tédio
do desprezo e da mesmice
te sara dessa asia
dessa loucura equilibrada
desse equilíbrio insano
digere a apatia
colore o urbano
e revigora a coragem
a tanto tempo reprimida.

Mas não te iludas!
às 5:30 tudo é mentira
o amor adormece
a beleza envelhece
o olhar se fecha
o afago machuca
a mão se encolhe
o beijo esfria
o sonho termina
a selva se abre.

Iara



4 de jan. de 2013


“Tenho um amor fresco e com gosto de chuva e raios e urgências. Tenho um amor que me veio pronto, assim, água que caiu de repente, nuvem que não passa. Me escorrem desejos pelo rosto pelo corpo. Um amor susto. Um amor raio trovão fazendo barulho. Me bagunça. E chove em mim todos os dias.”
Caio Fernando Abreu









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