27 de fev. de 2015

No limite

Arranca metade do meu corpo, do meu coração, dos meus sonhos. 
Tira um pedaço de mim, qualquer coisa que me desfaça. 
Me recria, porque eu não suporto mais pertencer a tudo, mas não caber em lugar algum. 

José Saramago

11 de nov. de 2014

Reconto



Amigos...
Quem são, nestes tempos?
Mercadorias
Coisas
Qualquer coisa fugaz
Qualquer coisa efêmera
Qualquer coisa de mim que se foi
Qualquer coisa de lá que ficou
História pra contar por aí
Quando já não se sabe mais contar.

Iara
11/11/14

4 de abr. de 2014

Chuva




Chove lá fora 
e eu, por dentro, 
também. 

Iara 








11 de dez. de 2013

Sobre as coisas difíceis da vida




Os homens, com o auxilio das convenções, resolveram tudo facilmente e pelo lado mais fácil da facilidade; mas é claro que nós devemos agarrar-nos ao difícil. Tudo que é vivo se agarra a ele [...].
É bom estar só, porque a solidão é difícil.
O fato de uma coisa ser difícil deve ser um motivo a mais para que seja feita.
Amar também é bom: porque o amor é difícil. o amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e última prova, 
a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação.
 Por isso, pessoas jovens que ainda são estreantes em tudo não sabem amar: 
tem que aprendê-lo. 
Mas a aprendizagem é sempre uma longa clausura. 


R. M. Rilke - Cartas a um jovem poeta

7 de ago. de 2013

Te quiero



TE QUIERO

Tus manos son mi caricia 
mis acordes cotidianos 
te quiero porque tus manos 
trabajan por la justicia

si te quiero es porque sos 
mi amor mi cómplice y todo 
y en la calle codo a codo 
somos mucho más que dos

tus ojos son mi conjuro 
contra la mala jornada 
te quiero por tu mirada 
que mira y siembra futuro

tu boca que es tuya y mía 
tu boca no se equivoca 
te quiero porque tu boca 
sabe gritar rebeldía

si te quiero es porque sos 
mi amor mi cómplice y todo 
y en la calle codo a codo 
somos mucho más que dos

y por tu rostro sincero 
y tu paso vagabundo 
y tu llanto por el mundo 
porque sos pueblo te quiero

y porque amor no es aureola 
ni cándida moraleja 
y porque somos pareja 
que sabe que no está sola

te quiero en mi paraíso 
es decir que en mi país 
la gente viva feliz 
aunque no tenga permiso

si te quiero es porque sos 
mi amor mi cómplice y todo 
y en la calle codo a codo 
somos mucho más que dos

Mario Benedetti


10 de jun. de 2013



Desarmonia 

Corpo vazio, alma sem corpo.
Uma disputa entre matéria e espírito?
Já não sabe dizer o que é a matéria:
vadia entre as almas pagãs enquanto
anda descalço na terra, gozando texturas.
Um ser pagão-vítima-réu
de um corpo-espírito em constante guerra:
espírito que não cabe no corpo;
corpo que não cabe no mundo;
civilização que dilacera ambos.
Enquanto isso resiste, tonto,
às alergias nasais e olhos vermelhos
que insistem em rejeitar e expulsar
 o próprio ar que o sustenta.
Resiste, tonto, às suas próprias grades.
Engole, dolorosamente, o frio da amarga solidão
e o quente sangue ao pôr de mais um sol.
Descobre, todos os dias, status,
ordem, moral e competição
que afastam o outro de si:
assim distanciam-se os irmãos.
Matam-se lentamente, corpo e espírito,
pela estrada que não finda;
O sangue a escorrer, o suor
à espera inútil da passagem do tempo,
enquanto devaneios cruéis desnudam
misérias e maldades humanas.

Iara


23 de mai. de 2013

Outono por Bashô



Matsuo Bashô, ou simplesmente Bashô, foi um poeta do período Edo no Japão e é reconhecido atualmente como um mestre da forma haikai.
Abaixo, alguns haikais de Bashô, com a cenografia outonal:


Este caminho!
sem ninguém nele,
escuridão de outono.


vento de outono
a silenciosa colina
muda me responde.


Outono
Empoleirado num ramo seco
um corvo.


Move-te ó tumba!
Meu pranto
é o vento do outono.


E tu, aranha
como cantarias
neste vento de outono?



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